Trauma e Resiliência

Matéria da revista  Wolder – N6 -2020 – Edição Especial – Trauma e Resiliência

Entrevista Mário Salvador- ES  

Psicólogo e especialista em psicologia clínica, é co-diretor do ALECES, Instituto de Psicoterapia Integrativa de Trauma e Brainspotting – Espanha.

Com 40 anos de experiência profissional, ele é um instrutor Internacional em Psicoterapia Integrativa pela IIPA, Analista Transacional Docente e Supervisor

Prov. (EATA-ITAA), Instrutor e Supervisor em Brainspotting pela IPV e clínico do EMDR. presidente da Associação Espanhola de Brainspotting

Vice presidente da Associação Iberoamericana de Psicotrauma (AIBAPT). 

Co-dirige e ensina Seminário de Desenvolvimento Profissional sobre Integração e 

Reprocessamento de Trauma, Método Aleceia, Instituto Aleces.

É professor internacional no Brasil, Itália, Eslovênia, Equador, Romênia, Rússia e Áustria.

Palestrante e autor do livro : Mais Além do Eu- Encontrando nossa essência através da  cura do traumas – 1ª Edição brasileira- TraumaClinic Edições – 2018

Edição Espanhola : Ed. Eleftheria, dez 2016 e co-autor do livro The Power de Brainspotting. Ed. Assanger, 2018 e 10 artigos na área de trauma psicológico.

Email: msalvador@aleces.com

TRAUMA E RESILIÊNCIA

Podemos dizer que o trauma é como nosso corpo e nosso sistema nervoso responde a ameaça.

Podemos dizer que o trauma é a resposta extrema, organizada pelo nosso cérebro subcortical (sem pensamento ou linguagem), diante de uma ameaça inescapável à vida e que excede nossas capacidades habituais de enfrentamento diante de um desafio. No exposto, devemos enfatizar a situação de inescapabilidade, que inibe as respostas de mobilização mais frequentes – lutar ou fugir – para ativar uma forma de autoproteção passiva, como é a paralisia/congelamento.

 Podemos ver isso em todo o mundo mamífero quando o predador caçou a presa e está pronto para matá-la, o organismo permanece imóvel. Portanto, é algo que nosso cérebro profundo se ativa automaticamente e sem a participação de nossa vontade consciente como forma final de sobrevivência. Por isso eu digo também que o trauma é como nosso corpo e nosso sistema nervoso responde à ameaça.

Esse congelamento/paralisia corresponde à experiência subjetiva que as pessoas mais tarde chamam de “eu tenho medo no meu corpo”, “um terror sem palavras”, “sendo congelado pelo terror”. Nesse estágio subjetivo, a mente procura como escapar quando o corpo não consegue, chamamos de dissociação: uma maneira de escapar do corpo à qual as pessoas podem se referir como ‘não sentir nem sofrer ‘,’ viver como um morto-vivo ‘,’ sentir-se flutuando para fora do corpo ‘,’ viver a vida a partir de uma janela,  como espectador “etc. Outras formas de expressão do trauma se manifestam por desregulação emocional quando as pessoas têm explosões de raiva, tristeza, pânico ou até pesadelos. O trauma também é um fenômeno de desconexão humana, pessoas traumatizadas se isolam na solidão e até certo ponto rompem sua confiança  nos outros.

Em que consiste o método “Aleceia” e em que casos se aplica?

O método Aleceia é uma abordagem de reprocessamento de trauma baseada na atenção plena, ou Mindfulness.

Aleceia vem do grego ‘busca da verdade ou descobrimento do que é verdadeiro. “Nós empregamos esse nome porque reune  a essência e a direção do método:  colocando  o centro de identidade do nosso ser em uma dimensão que não está  presa às experiências que vivemos, pois elas contam apenas nossa história, mas não é o que somos.

É um método em que primeiro construímos um relacionamento terapêutico seguro e em profunda sintonia com a experiência interna do paciente e vamos ajudando-o a se colocar em um estado de  auto-observação (atenção plena) para acessar a experiência emocional traumática que ainda está viva, impregnando e limitando o comportamento atual da pessoa.

Em Aleceia, o terapeuta mantém uma escuta e observação muito seletivas para detectar e apontar os sinais de trauma que aparecem na narrativa ou nos comportamentos do paciente, que são janelas de acesso ao mundo antigo ainda vivo; essas dicas podem ser reações físicas sutis, gestos, crenças limitantes, experiência de partes internas que têm dificuldades, etc. Assim, na primeira parte, o terapeuta atua como um investigador ajudando o paciente a focar e entrar em contato com a experiência interna que previamente havia negado ou  renegado. Uma vez que a experiência emocional dolorosa é acessada e enquadrada no contexto original em que foi vivida, o terapeuta apóia o cliente para que ouça a história ainda gravada em seu corpo, promovendo a escuta dessa história enterrados em sua linguagem de sensações, imagens, emoções ou também crenças. Neste segundo tempo de processamento, queremos garantir que o paciente ouça com seu observador compassivo (que eu chamo de Ser Essencial- o qual é um estado de atenção plena -mindfulness), a história que seu corpo oferece.

O método Aleceia se inspira em alguma teoria, autor ou estudos?

O método Aleceia é na verdade um método de psicoterapia integrativa dos conhecimentos mais atuais na abordagem e psicoterapia de trauma. Os interessados ​​podem encontrar uma base documentada para o nosso método no meu livro Mais Além do Eu, encontrando nossa essência através da cura do trauma, Ed. Brasileira –TraumaClinic Edições-2018 e na edição original  espanhola – Más Allá Del Yo –Encontrar nuestra esencia em La curación Del trauma; Ed. Eleftheria, dic 2016 . Como eu sinalizei na resposta anterior, é um método baseado em Mindfulness (atenção plena), como muitas das abordagens atuais e no olhar compassivo tanto do terapeuta como do observador interno do paciente. Autores importantes em nossa abordagem são D. Siegel, Jaak Panksepp, Antonio Damásio, David Grand, Erskine, Peter Levine, Richard Schwartz, Van der Kolk et al. Essencialmente autores da área de psicoterapia do trauma e neurociência do trauma. Mas nos últimos anos temos sido muito inspirados na psicologia budista ensinada pelo professor Thich Nhat Hanh; vimos que a sua abordagem ao sofrimento se encaixa perfeitamente com nossa atitude em relação ao sofrimento.

Todos esses autores apontam essencialmente para o mesmo, a importância de poder estar e acolher nosso sofrimento, em vez de fugir dele.

Thich Nhat Hanh diz: ‘Não há lótus sem a lama da qual emerge’, é um slogan que reúne como ao confrontar, acolher e atravessar nosso sofrimento com um olhar de compaixão e presença, emergem nossas qualidades mais humanas. 

Como difere de outros tratamentos e / ou terapias?

Bem, como eu disse, o Método Aleceia é uma integração do essencial e eficaz  do que os outros já estavam fazendo . A diferença é que damos muito ênfase no valor da presença do terapeuta, para por sua vez, despertar um estado de presença no paciente. Também em como construir a relação terapêutica e o espaço de segurança com intervenções muito específicas que refletem a sintonia na qual o terapeuta se coloca com o paciente. Também desenvolvemos uma perspectiva para ensinar terapeutas a fazerem uma escuta seletiva e muito refinada a cada momento para observar e enquadrar a experiência dolorosa e, em seguida, ajudar o cliente a sustentá-la e  permitir que ele expresse a história que nunca foi expressa e concluída até agora, o que dá lugar à sua transformação. Nós também incluímos uma visão sistêmica quanto à consideração dos aspectos perinatais e transgeracionais do trauma, além do trabalho  com a divisão do eu ou subpersonalidades.

Como você avalia a integração de outros recursos complementares neste método?

O trabalho da atenção plena é essencial para ajudar um cérebro desregulado a entrar na regulação, e esta é uma condição indispensável na cura. Nosso método coleta as contribuições da Teoria Polivagal de Stephen Porges. Também prestamos atenção aos recursos que o  pacientejá possui,ou que alguma vez ajudou  o paciente a sobreviver e que ele  usa na sua vida cotidiana. Esses recursos oucompetências são experiências que ativam redesneurais que ajudam a revisitar a dor antigaincorporando experiências que antes não haviam influenciado o sofrimento. Nós também somos muito influenciados pelo Brainspotting e seu criador David Grand, uma metodologia de reprocessamento neurológico a da qual nós também somos treinadores.

A quem se dirigem suas sessões abordadas com este método?

O trauma é o fator comum em todos os distúrbios psicológicos e em todas as condições de sofrimento emocional. Muitos pacientes virão à terapia demandando uma solução para seu estado de depressão, ansiedade, problemas de relacionamento com seus parceiros ou filhos, problemas com desregulação  de suas emoções ou problemas com alimentação. O trauma está na base de todos eles. 

Como apontei na primeira pergunta trauma é uma “afetação” do nosso sistema nervoso; e se ocorreu nos estágios iniciais do desenvolvimento afeta todas as etapas de  aprendizado da maturação de um ser humano.

É eficaz para todos os tipos de trauma (trauma t / T)?

Completamente. A diferença entre t (trauma crônico e cumulativo ao longo da vida) e T (trauma “único”) é que o último corresponde normalmente a uma pessoa que tenha uma história de vida boa o suficiente e, portanto, seja mais resiliente; isso ajudará a que a cura e a transformação a sejam mais rápidas. O trauma cumulativo (t) afetará muitos outros sistemas funcionais na pessoa e haverá maturação neurológica mais frágil;  a terapia deverá, portanto, abordar muito mais áreas e reconstruir mais lesões.

Como podemos acompanhar os familiares que têm experimentado trauma recentemente?

Eu diria que é muito importante ajudá-los a quebrar as barreiras da negação. Trauma é trauma porque faltou uma rede de apoio social que sustentaria a dor do outro e daria  permissão para ser capaz de se expressar em um relacionamento de empatia, proteção e não julgamento. Devemos ajudar os membros da família a poderem falar e ouvir o sofrimento do outro, e de si próprio, com paciência e compaixão.

Não podemos nos curar no silêncio, na pressa e no julgamento

Que impacto você acha que o covid-19 e o isolamento social terão na saúde mental?

Um estudo da The Lancet Magazine de fevereiro já estava apontando o grande impacto que esta pandemia terá. A pandemia supõe um “trauma existencial” por si só, é um inimigo invisível que parece espreitar em todos os cantos e que pode vir de qualquer vizinho. 

Para o nosso sistema límbico é percebido como uma ameaça existencial para a raça humana, pensemos ou não conscientemente sobre isso. Além disso, temos todas as condições de sua gestão: confinamento, isolamento e distância social, vigilância eàs vezes perseguição e controle, solidão… Tudo isso, para muitos, levará à conexão com traumas não resolvidos anteriores, onde essas condições também existiram. Vamos pensar sobre o trauma de apego precoce ou hospitalizações e intervenções médicas a uma criança pequena e as implicações e ameaça de distância de seus pais. Eu tenho também encontrado pessoas que despertaram trauma transgeracional experimentado por seus antepassados ​​como sequela de guerra. Neste, o isolamento e perseguição eram elementos sociais. Estou especialmente preocupado com o grupo de profissionais que tem estado na linha de frente da ação, estão sendo submetidos a estresse excessivo, sem descansar e que têm de enfrentar situações muito duras, além da falta de tempo. Contaram-me sobre as cenas de hospital de campanha e a solidão de não poder tocar ou ajudar as pessoas que estavam morrendo. Agora que a situação está amainando, esses profissionais estão começando a enfrentar todo o horror, o estressee o medo que eles tiveram que deixar de lado. O prognóstico dos casos de estresse pós traumático é alto, além de quadros de ansiedade, depressão etc. Eu discuti isso em um webinar que está aberto ao público no meu canal do YouTube: 

O impacto psicológico da Covid 19- Diretrizes para a  intervenção.

Ansiedade e medo tomaram conta de muitas mentes hoje em dia.

Você recomenda alguma orientação para aliviar o estresse?

Existem quatro refúgios. O primeiro é retornar à nossa ilhade calma interior. Práticas que nos ajudam a nos conectarmos ao nosso Eu Essencial ou à atenção plena ( Mindfulness), tais como meditação, ioga, tai chi, mas essencialmente qualquer prática feita com consciência plena. No centro do turbilhão não há movimento, existe a nossa essência. Todas as emoções: a raiva, o medo são como as ondas do mar que sobem, mas quando a onda se acalma, volta à sua naturezado mar. Por trás de tudo isso está o que realmente nós somos e devemos cultivar esse aspecto de nossa consciência.

O segundo refúgio é a co-regulação através da conexão com amigos e familiares pelas  redes sociais, de sentir que podemos contar com os demais. A co-regulação é outra maneira de sentir que não estamos sozinhos, que importamos, que nós somos cuidados e podemos cuidar. Sentir a nossa Sangha, nossa tribo, ou seja, o feito de construir comunidades maiores. Eu falo sobre a importância dos rituais coletivos, de sentir que todos juntos enfrentamos tudo isso e pertencemos a uma tribo maior que nossas famílias e relacionamentos diários.

O terceiro refúgio é a nutrição cognitiva e espiritual. Quero dizer: quais conteúdos e estímulos introduzimos em nossos intelectos e nossas almas. Devemos nos expor mais a ensinamentos que nos transmitam significado, esperança e alimento espiritual. É aconselhável evitar o bombardeio informativo que não para de nos assustar. Pessoalmente, estou ouvindo muitos professores espirituais.

E em quarto lugar, devemos cuidar de nosso corpo em vez de escapar dele; nutri-lo bem  e mimá-lo não apenas fisicamente, mas também selecionando o alimento. O corpo é um templo e cuidar dele nos ajuda a construir essa resiliência. Exercício, boa nutrição, descanso e o que podemos fazer para sentir a alegria de viver. Espero que tudo isso nos leve a encontrar um sentido mais elevado em nossas vidas do que o simples ato de produzir e consumir. A resiliência tenta entender o que aconteceu e com essa pandemia devemos aprender a extrair o lótus da lama.

Quanto tempo o corpo precisa se recuperar do choque e trabalhar com a dor?

É uma pergunta com uma resposta difícil. Depende da traumatização e resiliência prévia da pessoa. Enfrentamos essa crise da forma como éramos no dia anterior à esta pandemia. O fenômeno de luto é algo muito presente nessa situação, tanto porque perdemos entes queridos, como também porque perdemos muitas das condições de vida que tínhamos antes. Eu afirmo que o luto é a emoção mais complexa e maior que temos que elaborar. Em condições de bom apoio social e em pessoas razoavelmente resilientes,  um período de cerca de dois anos é o que geralmente requer um luto. Mas muitos lutos se prolongam no tempo, inclusive por décadas, porque são contaminados por traumas prévios. Digamos que uma pessoa tenha trauma de abandono precoce ou perda de figuras parentais na infância; com as perdas atuais tenderá a reativar esses problemas não resolvidos e a superativar a qualidade de “abandono”.  Isto exigirá que primeiro abordemos a questão traumática para que ela dê lugar à elaboração do luto em si.

Com base no que uma fobia e o trauma têm em comum e que provocam na pessoa uma grande dor e desconforto, seria recomendável a aplicação deste método também se a pessoa sofre uma fobia?

Completamente. Fobias são reações desencadeadas por nosso cérebro não racional (subcortical) a algo que é percebido como ameaçador (embora racionalmente não seja). A tarefa do nosso cérebro subcortical é a sobrevivência e, se a situação ameaçadora estiver associado a um objeto ou animal, ele responderá a ele como  a um estímulo condicionado. Agora me lembro do caso de uma pessoa com TOC, ele tinha uma compulsão muito ansiosa para limpar, não suportava a sujeira e toda a família sofria, até mesmo sua condição física de saúde corria risco pela ansiedade. Pudemos ver como isso a conectava a uma criança pequena com uma mãe obcecada por limpeza, que raramente estava em casa e, quando chegava, repreendia fundamentalmente a filha por não ter a casa limpa. Era fria e ameaçadora. A paciente “fugia”, deslocando sua dor para um ritual muito compulsivo de limpeza, para não enfrentar a terrível dor do abandono e o medo dessa mãe ameaçadora.

Que recomendações você poderia dar àquelas pessoas que estão superando traumas? Por onde eles poderiam começar?  Você recomenda algum exercício prático?

Uma resposta longa. Vou dar algumas orientações breves:

É importante que as pessoas comecem a sentir que têm controle sobre suas emoções e fisiologias. Como observei, pessoas traumatizadas fogem de sua dor e sofrimento. Isso está no custo de fazer coisas para evitá-lo: trabalhando excessivamente, recusando-se a lembrar, não sentindo… Para eles sentir é recordar. 

Eu recomendo fazer exercícios físicos que ajudem a acordar as sensações corporais não associadas ao trauma. Estas são sensações que estimulam sentir a força, a calma, equilíbrio, auto-afirmação… cada um pode escolher quais práticas podem ser melhores para si, o que queremos é que a pessoa sinta que pode estar em seu corpo e se sentir bem, mas também que pode se sentir no seu presente.

Outras práticas úteis são aquelas que estimulam o relacionamento e o envolvimento social. Trauma é também uma questão de desconexão social. Em muitos casos, o próprio humano foi o agente do trauma, e isso afetou a confiança nos outros. Mas nos curamos nas relações sociais seguras e presentes. Nosso sistema nervoso de mamíferos exige que nos regulemos no sistema nervoso de outros que estejam calmos, seguros e presentes. Assim as práticas que requerem sincronização e a ligação com os outros são muito convenientes.

Aqui eu coloco práticas como teatro, dança, canto coral, música ou participação em grupos de crescimento ou terapia, esportes em grupo, ou os rituais coletivos que nos ajudam a sentir no corpo que contamos e que somos levados em consideração pelos outros.

  • Eu já discuti a prática da meditação. Agora estamos introduzindo, particularmente em pessoas muito traumatizadas, a ajuda do biofeedback e do neurofeedback. Este último dá uma medida do que está acontecendo em nosso cérebro no EEG e depois de ver  como estão funcionando as diferentes áreas do cérebro, implementamos programas de tratamento para ajudar a regular o sistema nervoso altamente desregulado. Nestas pessoas isso ajuda enormemente a tornar a psicoterapia mais eficaz.
  • Se a pessoa estiver traumatizada, será necessária uma psicoterapia com especialistas focados em trauma. O trauma é uma questão de solidão. A crença nuclear é “não há ninguém”, “ninguém me entende”, “estou sozinho”. Então, mais uma vez, temos que nos curar acompanhados. A solidão é inerente ao trauma.

O que você mais gosta na sua profissão?

Eu sempre fui apaixonado por entender o comportamento humano. Isso é tão complexo que me tornei um buscador derespostas para ajudar melhor e mais profundamente para aliviar o sofrimento humano. Encontro na minha profissão um privilégio e um presente; nele posso entrar em contato com o mais essencialmente humano de cada um, com inteligênciade sobrevivência e afloramento de qualidades que nos fazem mais humanos: amor, alegria, espontaneidade, a liberdade.

Você é o autor do livro:  Mais além do Eu, encontrando nossa essência através  cura do trauma. O que levou você a escrevê-lo?

Ao longo da minha vida e carreira, acumulei e integrei uma grande quantidade de conhecimentos. Considero-me um bom integrador e sempre gostei de transmitir o que sei para que outros possam usá-lo e dêem continuidade. Escrever um livro é um trabalho árduo, que requer dedicação, entrega e rigor. Não sabia se eu escreveria outro, então queria colocar neste livro toda a essência do que manejo em psicoterapia. Tenho orgulho dele porque ele está ajudando muitas pessoas e finalmente se tornou um manual de psicoterapia profunda e o manual do nosso programa de treinamento em psicoterapia de Reprocessamento de Trauma, Método Aleceia.

Gostaria de dizer algo aos nossos leitores?

Só acrescentar que vivemos em uma sociedade traumatizada. Não temos dado tempo para metabolizar o sofrimento acumulado durante nossas vidas e nem tampouco das gerações que nos precederam.  Apenas a Europa acumulou vários milhares de guerras nos últimos 500 anos; depois delas, o tempo foi dedicado à reconstrução e sobrevivência, mas não se deu tempo para curar as feridas emocionais. Nossos pais e avós fizeram o que podiam porque eles vieram de histórias difíceis, e continuamos avançando em um mundo orientado a resultados, conquistas, consumo… Temos que reservar um tempo para parar e refletir sobre como  estamos vivendo nossas vidas e o sobre o que move nossos comportamentos atuais. Nossa sociedade é um reflexo como sintoma de nossa traumatização. Temos que dedicar tempo ao relacionamento mais profundo e íntimo conosco mesmos, com os outros e com a vida. Com esta entrevista e outros materiais que publiquei por escrito e em palestras abertas no YouTube que eu gostaria de oferecer material psicoeducativo para que  a sociedade  veja e compreenda esse fenômeno pelo qual estamos cercados, precisamos nos reabilitar e prevenir para não continuarmos  transmitindo nossas traumatizações. Isso é especialmente importante para famílias e educadores, mas também profissionais de saúde, responsáveis pela política e juízes.

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Obs.: Responsável pela tradução do espanhol para o português brasileiro com a autorização do autor Angela Maria Maranho Vivan- Treinada por Mario Salvador no Método Aleceia no Brasil -2018-2019. contato@angelamaranhovivan.com.br